André Telles é Publicitário, tem pós-graduações e especializações em várias universidades. Autor de livros como Social Media Marketing, o Orkut.com, Geração Digital e do que ainda será lançado: A revolução das Mídias Sociais. Vejo-o como mais um entusiasta das redes sociais que contagia os estudantes da área de comunicação que sonham com o trabalho perfeito, realizado de casa, sendo bem pago, dependente única e exclusivamente de contatos on-line e da criatividade deliberada. Numa de suas entrevistas, o publicitário diz que vê nas redes sociais mediadas por computador fonte infinita de possibilidades transformadoras para a educação e afirma que o Twitter, por exemplo, é a sua fonte de informação e que o utiliza frequentemente para se atualizar - "a cada segundo".
Todo esse entusiasmo com as novas mídias e, principalmente com as redes sociais, deixa uma lacuna no que diz respeito ao verdadeiro papel do comunicador, principalmente de quem trabalha com a educação e a comunicação: onde fica a interação com o mundo real? Na última semana Porto Alegre sediou o Abrapcorp, congresso de comunicação da área de Relações Públicas, ocasião em que em muito dos espaços foram discutidas as redes sociais mediadas por computador. Em todos eles havia professores e alunos com os seus laptops ou celulares "interagindo" com o "mundo externo". E o pesquisador ou estudante a sua frente, o universo acadêmico a sua volta, será que foram ouvidos? Acessando o Twitter de algumas dessas pessoas, depois do evento, percebi que praticamente todas estavam utilizando a ferramenta no momento das discussões para "cobrir" o evento, twittando “a cada segundo" o que estava sendo dito ou questionado durante as palestras. Ora! O que esse indivíduo pode refletir sobre as discussões servindo de mediador, se enquanto ouvia, digitava, atualizava, respondia aos demais colegas que estavam on-line e também estavam "interagindo", mediando outras ações de outros pontos, de outras cidades?
Quem já tentou conversar com alguém, seja ao telefone ou pessoalmente, ao mesmo tempo em que trocava mensagens com outras pessoas via msn, ou atualizava o orkut, o blog, ou o que quer que seja que esteja diante da tela do computador sabe que aquela telinha brilhante seduz o olhar de tal forma, que a cada mudança de cor, de pop-up que se abre, janelinhas de aviso, embarcamos numa viagem pelo ciberespaço e o mundo real fica (...) no aguardo do nosso regresso. Sente-se cinco minutinhos em frente ao computador para enviar um e-mail e visitar o orkut para verificar as atualizações dos amigos, procure apenas saber o que eles mudaram nas últimas horas, coisa rápida. Em cinco minutos você estará navegando por sites indicados, visitará a página de um amigo de [LUTO] para saber quem da família dele morreu, comentará em fotos publicadas, inevitavelmente entrará em alguma discussão que esteja fervilhando no twitter; sim, porque você não pôde evitar e já o acessou pelo link de um amigo do orkut. Quando der por conta, terão se passado mais de meia hora, se estiver atrasado, você terminará o que começou, mais dez minutos irão se passar e quando você desligar o computador lembrará: "Puxa vida! Esqueci de olhar aquele e-mail!".
É por isso que professores não aprovam o uso de computadores em salas de aula, mesmo nas aulas de "informática", em que alguns professores solicitam que os monitores sejam desligados, porque eles sabem que a alma desprende-se do corpo como que num piscar de olhos, muitas vezes não intencionalmente, e que só negando o acesso é que ele terá a sua audiência atenta ao que está sendo tratado. E como você se sentiria se o palestrante a que você assiste interrompesse o discurso para atualizar suas interações on-line, ou resolvesse contar para os seus amigos no twitter que estava palestrando? Isso já acontece (é a revolução das mídias!), e não é interessante ver a narrativa ser interrompida porque a alma saiu do corpo daquele que está de pé, a sua frente!
O estudo da comunicação tem como papel compreender os modos de comunicar, as interações como um todo. As redes sociais mediadas por computador devem ser notadas, utilizadas como ferramentas alternativas, mas a vida de um comunicador não pode ser resumida ao estudo dessas mídias. Não encontrei um estudioso das novas formas de interação mediada que não fosse um twitteiro rendido aos domínios do ciberespaço; os olhos deles brilham ao se falar em novas tecnologias desse tipo e eles precisam desesperadamente twittar as novas descobertas: o que se discute, o que se passa a sua volta. Entendo a necessidade de estudiosos nessa área, o que pode ser feito, sim, com certo distanciamento. Além disso, a nossa área necessita, antes dos meios, da teoria que provê o raciocínio e o pensamento, o que dizer frente aos nossos públicos.
Todo esse entusiasmo com as novas mídias e, principalmente com as redes sociais, deixa uma lacuna no que diz respeito ao verdadeiro papel do comunicador, principalmente de quem trabalha com a educação e a comunicação: onde fica a interação com o mundo real? Na última semana Porto Alegre sediou o Abrapcorp, congresso de comunicação da área de Relações Públicas, ocasião em que em muito dos espaços foram discutidas as redes sociais mediadas por computador. Em todos eles havia professores e alunos com os seus laptops ou celulares "interagindo" com o "mundo externo". E o pesquisador ou estudante a sua frente, o universo acadêmico a sua volta, será que foram ouvidos? Acessando o Twitter de algumas dessas pessoas, depois do evento, percebi que praticamente todas estavam utilizando a ferramenta no momento das discussões para "cobrir" o evento, twittando “a cada segundo" o que estava sendo dito ou questionado durante as palestras. Ora! O que esse indivíduo pode refletir sobre as discussões servindo de mediador, se enquanto ouvia, digitava, atualizava, respondia aos demais colegas que estavam on-line e também estavam "interagindo", mediando outras ações de outros pontos, de outras cidades?
Quem já tentou conversar com alguém, seja ao telefone ou pessoalmente, ao mesmo tempo em que trocava mensagens com outras pessoas via msn, ou atualizava o orkut, o blog, ou o que quer que seja que esteja diante da tela do computador sabe que aquela telinha brilhante seduz o olhar de tal forma, que a cada mudança de cor, de pop-up que se abre, janelinhas de aviso, embarcamos numa viagem pelo ciberespaço e o mundo real fica (...) no aguardo do nosso regresso. Sente-se cinco minutinhos em frente ao computador para enviar um e-mail e visitar o orkut para verificar as atualizações dos amigos, procure apenas saber o que eles mudaram nas últimas horas, coisa rápida. Em cinco minutos você estará navegando por sites indicados, visitará a página de um amigo de [LUTO] para saber quem da família dele morreu, comentará em fotos publicadas, inevitavelmente entrará em alguma discussão que esteja fervilhando no twitter; sim, porque você não pôde evitar e já o acessou pelo link de um amigo do orkut. Quando der por conta, terão se passado mais de meia hora, se estiver atrasado, você terminará o que começou, mais dez minutos irão se passar e quando você desligar o computador lembrará: "Puxa vida! Esqueci de olhar aquele e-mail!".
É por isso que professores não aprovam o uso de computadores em salas de aula, mesmo nas aulas de "informática", em que alguns professores solicitam que os monitores sejam desligados, porque eles sabem que a alma desprende-se do corpo como que num piscar de olhos, muitas vezes não intencionalmente, e que só negando o acesso é que ele terá a sua audiência atenta ao que está sendo tratado. E como você se sentiria se o palestrante a que você assiste interrompesse o discurso para atualizar suas interações on-line, ou resolvesse contar para os seus amigos no twitter que estava palestrando? Isso já acontece (é a revolução das mídias!), e não é interessante ver a narrativa ser interrompida porque a alma saiu do corpo daquele que está de pé, a sua frente!
O estudo da comunicação tem como papel compreender os modos de comunicar, as interações como um todo. As redes sociais mediadas por computador devem ser notadas, utilizadas como ferramentas alternativas, mas a vida de um comunicador não pode ser resumida ao estudo dessas mídias. Não encontrei um estudioso das novas formas de interação mediada que não fosse um twitteiro rendido aos domínios do ciberespaço; os olhos deles brilham ao se falar em novas tecnologias desse tipo e eles precisam desesperadamente twittar as novas descobertas: o que se discute, o que se passa a sua volta. Entendo a necessidade de estudiosos nessa área, o que pode ser feito, sim, com certo distanciamento. Além disso, a nossa área necessita, antes dos meios, da teoria que provê o raciocínio e o pensamento, o que dizer frente aos nossos públicos.
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